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Entre a
Missa e o Almoço
CENA I
Pedro, depois Arnaldo (Ao levantar o pano, Pedro, o copeiro
da casa, espana os móveis; alguns momentos depois, ouve-se uma campainha
elétrica. Ele vai à porta do fundo e olha para fora).
Pedro — Oh! O sr. dr. Arnaldo! Entre, sr. doutor! (Arnaldo
entra). Como tem passado vossa senhoria? Vossa senhoria não se lembra de mim?
Sou o Pedro... o Pedro, que foi copeiro de vossa senhoria!
Arnaldo — Ah!
Pedro — Tenha a bondade de sentar-se
Arnaldo — Obrigado. Estou bem.
Pedro — A sra. D. Alice está boa?
Arnaldo — Creio que sim.
Pedro — Não fique querendo mal à sra. D. Alice, não senhor;
mas a sra. D. Alice foi muito injusta para comigo.
Arnaldo (quase interessado, a seu pesar) — Por quê?
Pedro — Pois vossa senhoria não se lembra que ela me
despediu sem razão?
Arnaldo — Não sei disso.
Pedro — Eu fazia muito bem a minha obrigação; não havia
motivo de queixa; entretanto, o pretexto foi que o meu serviço era mau.
(Sorrindo). Depois vim a saber de tudo...
Arnaldo (desta vez interessado) — Tudo quê?
Pedro — Quem me disse foi seu Ferreira.
Arnaldo — Quem é seu Ferreira?
PEDRO - O homem da venda. A cozinheira contou que eu era
"onze letras" de vossa senhoria, que trazia recadinhos em segredo a
vossa senhoria... Ora seja tudo por amor de Deus!...
ARNALDO - Bom! Isso não tem importância
PEDRO - Como não tem importância? Tem importância, sim
senhor! Eu sou um pobre criado de servir, um homem de cor, mas nunca foi
Mercúrio de ninguém!
ARNALDO - Isso lá vai..
PEDRO -
Nunca tive patroa mais ciumenta que aquela! Vossa senhoria vivia muito
apoquentado! ARNALDO, a quem desagrada a conversa, naturalmente por ser
com quem é, - O visconde está em casa? PEDRO - Está sim senhor... está
ali (Apontando para a direita baixa), no seu gabinete, ocupado com a sua
advocacia!... Oh! O sr. visconde trabalha muito! Às 6 da manhã já está de pé...
Senta-se à mesa de trabalho e desunha até às 11, mesmo aos domingos, como hoje!
ARNALDO - Está sozinho? PEDRO - Sozinho. A sra. viscondessa foi ouvir missa ali
na matriz. É verdade que a missa está a acabar, e a sra. viscondessa não tarda
ai com as amigas. ARNALDO - As amigas? PEDRO - Sim, senhor. Todos os domingos,
depois da missa, ela traz consigo, da igreja, quatro ou cinco senhoras da
vizinhança, que vêm tomar café e conversar, aqui na sala, sobre todos os
assuntos da semana... é assim uma espécie de folhetim... (Animado por um
quase sorriso de Arnaldo) Cortam na pele das outras... e principalmente
das outras, que é um gostinho. Se vossa senhoria assistisse, escondido, a uma
dessas conversas entre a missa e o almoço, divertia-se a valer! são terríveis!
Sabem de tudo quanto se passa na casa alheia! A sra. viscondessa é a que menos
fala, mas parece que dá o cavaquinho por ouvir falar. É uma boa senhora, vossa
senhoria não acha
CENA II
A VISCONDESSA, entrando - Vão entrando sentem-se. Eu vou lá
dentro ver o café. (Entram outras. Dudu vai para a janela).
ELISIÁRIA - Viscondessa, não se esqueça de recomendar que
tragam a minha xícara com muito pouco açúcar! (A viscondessa sai pela direita
alta
LUÍSA - Tomara que o de hoje esteja melhor e o do domingo
passado. Café, ou muito bom ou nenhum! (De repente, vendo Dudu à
janela) Sai da janela, Dudu!
DUDU - Ora, mamãe!
LUÍSA - Não ouves! (Dudu sai da janela)
ELISIÁRIA - Há quatro, não: há cinco!
LAURA - Vocês também! Creio que há três!
ELISIÁRIA - Há cinco! Tem ouvido muita missa com
aquela toilette!
LUÍSA - Pudera! O marido está pronto!
DUDU - Pronto para quê? LUÍSA - "Pronto" quer
dizer
DUDU - Nesse caso, também papai está pronto...
LUÍSA - Cala a boca, menina! [...]
1)
Após ler e analisar a composição linguística do
texto “Entre a Missa e o Almoço”, responda às perguntas a seguir
2)
Quais são as características que nos permitem
identificá-lo como texto teatral?
3)
A narrativa do texto teatral é estruturada em:
a. ( ) Parágrafos. b. ( ) Versos e estrofes. c. ( ) Parágrafos e versos. d. ( )
Rubricas e falas das personagens.
4)
Na sua opinião, por que o texto se enquadra na
modalidade narrativa? E por que essa forma de construção foi tão importante em
algumas épocas para gerar efeitos de sentido como, por exemplo, passar
ensinamentos, provocar catarse2 ou evidenciar certos comportamentos da
sociedade? Justifique sua resposta.
5)
Qual dos elementos da narrativa, nesse caso,
diferencia o texto teatral dos outros gêneros narrativos? Explique.
Obs: rubrica – aviso do autor, vem entre
parente ou itálico, isto é dramatizar a sena – onde esta o personagens e o que
ele sente.
Leitura dramática antes da sena (
personagens)
Você já assistiu uma peça teatral, qual o
nome dessa peça?
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