Língua Portuguesa— 9º anos B, C
Prof.ª Kerley
3º Bimestre - Atividade 1
Olá,
queridos alunos e alunas! 😊
Como vocês viram escrito lá no comecinho desta postagem, o
meu nome é Kerley. De agora até o fim do ano letivo, terei a alegria de acompanhar
vocês em sua construção de saberes, como professora de Língua Portuguesa.
Em nossa jornada, postarei textos e propostas de atividades para
fazermos juntos. Digo juntos porque, mesmo à distância, quero muito interagir
com cada um de vocês. Assim, ao realizar as leituras e fazer as atividades de
Língua Portuguesa, sempre me procurem para tirar as dúvidas.
Vou deixar anotado o meu e-mail, fiquem totalmente à vontade
para me escrever.
É o seguinte endereço eletrônico:
Vamos à primeira atividade, bons estudos!
Língua Portuguesa
SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM - O TEXTO LITERÁRIO E SUAS VERSÕES
Para começarmos a nossa jornada de construção de conhecimentos, trago para vocês um conto retirado do Caderno do Aluno SP Faz
Escola, página 21. A escrita do referido conto é obra de Machado de Assis, um dos maiores
escritores brasileiros.
Ler seu texto denominado “Um Apólogo”, representa a primeira
parte da sequência didática que elaborei para vocês, composta por duas atividades. Peço que realizem
a leitura com muita atenção, e espero que apreciem conhecer o texto.
Lembrem-se que a nossa próxima atividade será baseada no conto, então é muito importante que realmente se dediquem à leitura.
Vamos lá, boa leitura!
Um Apólogo – conto de Machado de Assis
Era uma vez uma agulha, que
disse a um novelo de linha:
— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda
enrolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?
— Deixe-me, senhora.
— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está
com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.
— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha.
Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus
lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.
— Mas você é orgulhosa.
— Decerto que sou.
— Mas por quê?
— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama,
quem é que os cose, senão eu?
— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que
quem os cose sou eu, e muito eu?
— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço
ao outro, dou feição aos babados…
— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante,
puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e mando…
— Também os batedores vão adiante do imperador.
— Você é imperador?
— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel
subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho
obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto…
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa.
Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a
modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do
pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a
coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor
das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para
dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:
— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não
repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui
entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima…
A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela
agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz,
e não está para ouvir palavras loucas. A agulha vendo que ela não lhe dava
resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de
costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo
o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte; continuou ainda
nesse e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que
a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum
ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava a um
lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a
linha, para mofar da agulha, perguntou-lhe:
— Ora agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da
baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com
ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira,
antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça
grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha: — Anda, aprende, tola.
Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí
ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém.
Onde me espetam, fico.
Contei esta história a um
professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça: — Também eu tenho
servido de agulha a muita linha ordinária!
Referência bibliográfica:
São Paulo Faz Escola- 9° Ano Ensino Fundamental/ Volume 3
Link para acesso ao material didático:
SP Faz Escola Língua Portuguesa
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